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  • Foto do escritorVinícius de Oliveira.

Trecho do conto que dá nome à obra, "Neuroquímica e Fantasmagoria."

Atualizado: 18 de jul. de 2019

"O pessoal da cidade grande não sabe, mas a cultura lisérgica e o new age sempre tiveram capilaridade e chegaram mesmo às cidadezinhas de Minas, atingindo os jovens da classe média esclarecida, principalmente em cidades onde há alguma Universidade. Meu pai conta que um amigo dele, hoje demente incurável morando num asilo, já na década de 1970, fritou o cérebro num acampamento na Serra do Caparaó - onde estivera acampados os primeiros guerrilheiros contrários à ditadura de 1964 - depois de tomar muito chá de trombeta. Pra quem não sabe, o chá, feito de uma planta nativa do Brasil, contém uma substância alucinógena ainda mais potente que o LSD. O homem, amigo de Diretório de Estudantes de meu pai, chegou cem casa já com cara de louco, arrancou a roupa toda e foi pro meio do quintal, dizendo que ia meditar. Depois, entrou em casa quebrando tudo, dizendo que era o Aleister Crowley e que ia matar todos que serviram à ditadura, a começar pelo próprio pai, policial civil. Isso porque tivera uma visão do Médice como servidor do anticristo, sentado na cadeira presidencial nos EUA: Richard Nixon. Foi hospitalizado. Os anos se passaram e ele parou inclusive de falar. Viveu boa parte da vida acautelado na cama com amarras, só saindo para o banho de sol da manhã: se o deixassem livre, quebrava tudo. Só lá por meados dos anos 1980, ele deixou de ser agressivo. Cabeludo e barbudo, passou a viver andando pelo manicômio com as mãos unidas como um louva-deus e com a expressão facial do Osho, o Rajneesh, concedendo bençãos, ou se ajoelhando diante de uma árvore ou de um muro para rezar.

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